Há um aspecto do Fenômeno UFO pouco estudado e relativamente desconhecido de muitos pesquisadores e interessados pelo assunto, que, por sua aparência, ganhou o poético nome de “cabelo de anjo”. De curta duração e com grande efeito visual, os cabelos de anjo são filamentos esbranquiçados que caem do céu geralmente quando há um avistamento ufológico, embora também haja descrição da misteriosa substância em vários tons de cinza, prateados e até mesmo translúcidos. Se assemelham também a teias de aranha.
Testemunhas afirmam que os filamentos são muito viscosos, difíceis de partir, e há casos de completa sublimação ou desintegração da substância durante a observação. Alguns pesquisadores têm tentado investigar o fenômeno e escrever sobre ele. Há relatos sobre quedas de material e sua duração no solo variando entre uma a onze horas, com uma média de tempo em torno de três horas — depois ele se dissolve e não deixa traços. O aparecimento da substância ocorre geralmente durante a tarde.
Casos em todo o mundo
Como se trata de um evento raro e com fibras que se desintegram, poucas amostras foram coletadas e cientificamente analisadas. Contudo, as que conseguiram ser coletadas revelaram os mesmos elementos em sua composição, ou seja, silício, cálcio, magnésio e boro. Em outras ocasiões, substâncias como potássio, fósforo, alumínio, oxigênio, cloro, ferro, enxofre, magnésio, zinco, lantânio, césio e trítio foram também encontradas. E aqui há um detalhe interessante: o trítio é um isótopo radioativo do hidrogênio, raro na natureza. O gás de trítio é usado para aumentar a eficiência de ogivas atômicas e, para se obter a substância em qualquer quantidade, ela deve ser produzida artificialmente em reatores nucleares ou aceleradores de partículas.
Há vários relatos de cabelos de anjo caindo do céu ao redor do mundo, alguns dos quais também registram o avistamento de UFOs antes ou concomitantemente à queda do material. Por exemplo, o fenômeno foi registrado em outubro de 1953 em Victória, na Austrália. Em 27 de outubro de 1954 em Florença, na Itália. Em 17 de janeiro de 1963 na província de Entre Rios, Argentina. Em Portugal, o fenômeno dos cabelos de anjo foi relatado em diversos lugares e datas, especialmente em Fátima, em 13 de setembro de 1917, quando as testemunhas sentiram um odor como o de cânfora. E também em 13 de maio de 1918, 13 de maio de 1923, 13 de maio de 1924 e em 17 de outubro de 1957.
Ainda em Portugal, outros relatos vieram de Ponte de Lima, em 12 e 13 de outubro de 1857, como também de Évora, em 02 de novembro de 1959 e 26 de junho de 1960. Tondela registrou um caso em 09 de outubro de 1961 e Lisboa outro em 10 de fevereiro de 1977. Há também uma ocorrência em Rio D’Ouro, em local e data não especificados — só sabemos que aconteceu em setembro de 1977. O caso de Évora, de 1959, é particularmente interessante e vamos analisá-lo a seguir.
Às 12h00 do ensolarado dia 02 de novembro daquele ano, Joaquim Guedes do Amaral, um homem interessado em ciência que amava astronomia e foi diretor da Escola de Indústria e Comércio de Évora, estava lecionando quando foi repentinamente alertado por alguns alunos de que havia um estranho objeto pairando sobre a cidade. Amaral saiu da sala e avistou um artefato redondo e azulado no céu, movendo-se de leste para oeste — o aparelho também foi visto por alguns estudantes, professores e funcionários da escola.
Um estranho ser
O professor, então, decidiu colocar seu telescópio de 135 mm no pátio do estabelecimento para melhor observar o fato. Em seu depoimento, ele escreveu que o objeto tinha forma elíptica e incandescente. Cerca de 30 minutos depois, às 12h30, outro artefato apareceu vindo do sul. De acordo com testemunhas, este segundo parecia muito maior do que o anterior e lembrava a forma de uma água-viva. Ambos os UFOs pararam por alguns instantes no céu e, então, começaram a acelerar e desapareceram da vista.
Ainda maravilhado por aquele estranho avistamento, Amaral e seus alunos começaram a perceber que havia algum tipo de filamento esbranquiçado caindo do céu. Mais cedo, na manhã daquele mesmo dia, a mais de 100 km de distância, na Base Aérea de Sintra, que fica perto de Lisboa, o capitão Tomás Conceição e Silva estava aguardando para decolar sua aeronave para um exercício de voo quando ele e seus colegas avistaram alguns finos filamentos caindo do céu, os quais rapidamente se desintegravam em contato com as palmas de suas mãos.
Em Sintra, o fenômeno só durou alguns momentos, mas em Évora ele ocorreu por quase uma hora, o que permitiu ao professor Amaral coletar algumas amostras do material — o objetivo era observar a substância por meio de um microscópio, mas, por causa da sua viscosidade, foi difícil colocá-la em um vidro e depois em uma lâmina. Depois de alguns minutos, e ficando mais frustrado, Amaral finalmente conseguiu fazer a análise.
Amostras examinadas revelaram os mesmos elementos em sua composição: silício, cálcio, magnésio e boro. Em outras ocasiões, substâncias como potássio, fósforo, alumínio, cloro, ferro, magnésio, zinco, lantânio, césio e trítio foram encontradas
Enquanto observava os detalhes daqueles filamentos bastante claros, ele viu algo inesperado — havia na amostra um pequeno ser com tentáculos, vivo e se movendo. Ele ficou completamente abismado. De acordo com o seu depoimento escrito, o “ser” tinha as seguintes características: corpo com 0,375 mm de diâmetro, tentáculos com 0,225 mm de largura e 2 mm de comprimento. O tamanho total da criatura era de apenas 4,375 mm. O corpo central era amarelo como gema de ovo e os tentáculos eram de cor vermelha vívida. Com o passar do tempo, tanto o corpo central como os tentáculos tornaram-se amarelo-escuro, pendendo para o marrom.
Amaral tirou algumas fotos usando um equipamento de microfotografia da marca Zeiss Phokou, com uma lente automática Ibsor em uma câmera de 4 x 6,5 sem objetiva e com um filtro amarelo, tudo montado em um microscópio Zeiss Winkel com uma lanterna Pictorul com lâmpada de 300 watts. Como o cientista era amigo íntimo do pai do capitão Tomás Conceição e Silva, o almirante Eugênio Conceição e Silva, professor catedrático da Escola Naval de Alfeite e membro da Sociedade Francesa de Astronomia, Amaral decidiu v
isitar o almirante e mostrar-lhe as amostras. O capitão, filho de Conceição e Silva, também estava presente quando o cientista chegou. Eles fizeram algumas observações e uma análise espectrográfica nos filamentos, mas só foram capazes de identificar uma tênue linha de sódio.
Em busca de respostas
Sem chegar a nenhuma conclusão sobre o material ou o pequenino ser, o almirante sugeriu que a melhor coisa a se fazer seria contatar a Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa. Buscando descobrir mais alguma coisa, o professor perguntou a opinião de alguns colegas e obteve três respostas, duas de biólogos e uma do diretor do Instituto de Botânica de Lisboa, conforme os trechos a seguir: “Os únicos animais que parecem similares a este ser são do tipo dos celenterados. Eu confesso, no entanto, que não conheço nada na biologia que me permita classificá-lo”, escreveu o primeiro biólogo. Já o segundo, relatou que “eu só posso dizer que isto é um ser vivo. Não posso dizer nada sobre sua natureza, tendo em vista que não conheço nada comparado a isso na biologia”. Já o botânico explicou que “isto é um animal e consequentemente está fora da minha especialidade”.
Ávido por respostas, mas também cansado de toda a controvérsia que o fenômeno suscitou na sociedade científica portuguesa, Amaral decidiu doar as amostras à Universidade de Lisboa, esperando que, no futuro, alguém pudesse solucionar o mistério. Em 1978, um grande incêndio de causa desconhecida destruiu o laboratório onde as amostras estavam armazenadas. Naquele mesmo ano, o general José Lemos Ferreira era o ministro-chefe da Força Aérea Portuguesa (FAP) e tinha como braço direito o citado brigadeiro Tomás Conceição e Silva. A equipe de pesquisadores, que em 2014 fazia parte da Faculdade de Ciência e Tecnologia da Universidade Fernando Pessoa, solicitou que o general ratificasse a história para confirmar a versão de Amaral. Como Conceição e Silva tinha sido uma testemunha de alguns desses episódios, Lemos Ferreira solicitou que ele escrevesse sobre os acontecimentos.
Disse o brigadeiro: “A partir de minhas memórias sobre as visitas do doutor Amaral à casa de meu pai, sobre o seu interesse por astronomia e sua seriedade como pessoa, sou levado a concluir que o documento em questão é merecedor de todo o crédito”. Após checar tudo com Conceição e Silva, Lemos Ferreira declarou que “sobre um fenômeno incomum que aconteceu na cidade de Évora em 02 de novembro de 1959, está declarado, para os efeitos observados como convenientes, que a Força Aérea não tem conhecimento de quaisquer fatos que nos permitam questionar a veracidade de o fato ter ocorrido em Portugal. Os acontecimentos relatados são oriundos do relatório do autor”.
Novas amostras
O relatório do professor Joaquim Guedes do Amaral foi validado, mas muitas questões ainda permaneceram sem respostas. Entretanto, após terem decorridos mais de cinco décadas do fato, houve alguma luz sobre o assunto. Em 19 de novembro de 2014, Miguel Monteiro, chefe de um restaurante local em Alverca, centro de Portugal, estava saindo de sua casa, às 15h00, quando avistou alguns filamentos estranhos caindo do céu. Ele pegou seu telefone celular e filmou aquele evento raro. Familiarizado com o caso de Évora, de 1959, Monteiro se apressou a contar aos amigos e a outras pessoas, via internet, o que tinha acabado de ver.
Um membro do movimento Exopolítica Portugal conseguiu entrar em contato com Monteiro e solicitou que o mesmo recolhesse algumas amostras, o que ele fez mais tarde, naquele mesmo dia, e depois enviou-as para este autor. Assim que recebi as amostras, eu me encontrei com um membro da Faculdade de Ciência e Tecnologia da Universidade Fernando Pessoa para proceder a uma observação visual preliminar por meio de um microscópio — os filamentos eram realmente viscosos. As observações foram feitas com aumento de 10 e 20 vezes. Não havia nada além das fibras nas amostras.
Também foram realizados vários testes de radioatividade e em diferentes comprimentos de ondas. Quando um equipamento de onda curta UV foi utilizado, algumas fibras reagiram — houve um tipo de impulso, embora nem todas as fibras tivessem reagido da mesma maneira. Com ondas ultravioletas (UV) longas ou com laser não houve reação da amostra. Nós queríamos mais respostas e para isso precisávamos proceder com outros tipos de testes, usando equipamentos bem mais sofisticados. Além disso, havia urgência, pois percebemos que as amostras estavam lentamente se desintegrando.
Enquanto isso, a notícia sobre os filamentos se espalhou na internet, com relatos em sites do Japão, Austrália, Inglaterra e Estados Unidos. Houve uma espécie de histeria e sensacionalismo com alguns sites dizendo que os filamentos estavam vivos. Em 21 de outubro de 2014, em Serra da Arrábida, na região de Lisboa, outra onda de filamentos caindo do céu foi avistada pelo fotógrafo profissional Márcio Sousa, dessa vez durante a manhã. Ele também conseguiu recolher algumas amostras e enviá-las para nossa equipe de investigação.
Teorias e fatos
Novamente fizemos uma observação visual preliminar e constatamos que os filamentos eram similares, mas pareciam mais secos e não houve reação com o uso do equipamento UV. Quatro dias mais tarde, em 25 de outubro, o citado Miguel Monteiro viu filamentos caindo em Alverca novamente. Essa terceira amostra foi também enviada para nós. Imediatamente após analisar a primeira, entramos em contato com o Instituto de Biologia Celular e Molecular da Universidade do Porto e tivemos alguns encontros com pesquisadores de pós-doutorado, o que nos ajudou a armazenar as amostras a uma temperatura de –81ºC. Todas as três amostras estão armazenadas em um freezer especial, esperando para serem submetidas a vários testes a fim de determinar seus componentes.
Em 19 e 21 de outubro, as testemunhas não observaram nenhum discos voadores ou aeronave no céu, mas, no dia 25, Monteiro alega que havia aeronaves não identificadas pairando sobre a região. Algumas pessoas dizem que esses filamentos não são nada além de teias de aranha. Mas os estudiosos consultados por este autor afirmaram nunca terem visto teias de aranha como aquelas, embora estejamos cientes de que temos que examinar todas as possibilidades.
Outros dizem que o acontecimento pode ser resultado de algum tipo de micro-organismo que vive na atmosfera superior, cuja queda é ocasionada quando algum veículo ou fenômeno passa pela área onde ele está. Assim, quando uma aeronave de alta altitude ou um UFO atravessa uma área particular do céu, poderia causar a queda dos filamentos. Nesse caso, eles seriam de um ambiente muito frio e isso pode ser o motivo da sublimação que ocorre quando descem a baixas altitudes, enfrentando temper
aturas altas. De qualquer forma, estamos esperando pelos resultados com grande expectativa, mas cientes de que as conclusões podem não trazer nada de novo. Mesmo assim, seja qual for a resposta, ela nos ajudará a entender mais um dos mistérios ligados à Ufologia.